Estamos com Ruy Espinheira Filho em Samarcanda. Não vamos longe de Ciméria ou de Pasárgada. Estamos com Manuel Bandeira e Oswaldino Marques. E por que não evocar a rua Lopes Chaves, que é o mesmo que dizer Mário de Andrade? A poucos passos da oficina irritada de Drummond. Toda uma constelação de eventos, ao que Ruy completaria: et in arcadia ego. Arcádia metafórica, bem entendido, viva, contemporânea, no registro forte da poesia brasileira, em cuja altitude se inscreve Samarcanda, com o soberbo rigor do artista, que sabe trovar claro, porque domina as formas do trobar clus. Ruy não se prende àquelas fontes. Aproxima-se para se afastar. Não subsistem aqui resíduos de uma angústia da influência. Samarcanda não está em parte alguma. É uma espécie rara de não-lugar. A única geografia capaz de abrangê-la talvez se desenhasse no coração da língua portuguesa, sob a diferença específica dos ventos que sopram neste livro. Chuva e tempestade. A longa paciência dos dias. E toda uma dimensão líquida e transparente nos modos de sentir. E de seus belos instrumentos. O corpo transparente da palavra assumida numa biografia aberta. É a obra mais livre e calculada de Ruy. Mais dolorosa e alegre. Mais aflitiva e serena. Temperada de ironia e comoção. Superou-se a si mesmo na altitude deste céu, na luz generosa das quatro vogais que produzem o som altivo e claro de Samarcanda.Marco Lucchesi
Informações sobre o Livro
Título do livro : Sob o céu de Samarcanda
Autor : Espinheira Filho, Ruy
Idioma : Português
Editora do livro : Editora Bertrand Brasil Ltda.
Capa do livro : Mole
Ano de publicação : 2009
Quantidade de páginas : 240
Altura : 21 cm
Largura : 14 cm
Peso : 300 g
Data de publicação : 16-12-2009
Gênero do livro : Ficção