A poética desdobrada de Mafra Carbonieri Máscara de si, disperso em tantos outros, assim a poética de Mafra Carbonieri se apresenta. Obra de invenção, de personagens-poetas em construção, de uma alteridade cujo exercício lúdico da linguagem, redesenhado sem margens e limites, revela a capacidade de transformar, plasticamente, o cotidiano em material poético. Não há chave interpretativa de seus textos. Em cada livro se avolumam vozes diversas em um escrever desestabilizador, que cria um outro do mundo, que sugere, sabedor da opacidade da palavra. A literatura de Mafra é o acúmulo de tantas outras leituras, fecundada em uma escrita que nos põe em escuta, singular pela sua sutileza, intervalar para suscitar muitos possíveis. Espaço de transgressão, tanto a prosa quanto a poesia de Mafra Carbonieri se constituem como experiências de linguagem em um movimento contínuo, posto que o cruzamento de citações, de incorporações de frases e versos em diálogo com muitos outros escritores e filósofos, mostra-nos um percurso que desperta para novas significações, para uma abertura constitutiva de uma montagem, cuja atualização propõe novas passagens, novas paragens. É assim que, a título de exemplos, podemos citar brevemente seus livros de poemas Cantoria de Conrado Honório; Modas de Aldo Tarrento; A lira de Orso Cremonesi e Diálogos e sermões de Frei Eusébio do Amor Perfeito. Conrado Honório, Aldo Tarrento, Orso Cremonesi e Frei Eusébio são criações líricas cuja tônica de suas escritas é uma só: a crítica às instituições e ao instituído, a ironia que resvala ao sarcasmo e a preocupação com o fazer poético. Em Conrado Honório, deparamos com uma poesia de cunho mais popular, com uma escolha lexical ligada ao universo da música, como cantoria, samba-desenredo, tamborim, violão, rock, sambão etc. Aldo Tarrento, por sua vez, mistura versos simples com outros que lembram um simbolismo clássico, mas o motivo recai, também, sobre o universo musical. É descrito como um tropeiro rude, peão de boiadeiro que aparece, pela primeira vez, como personagem-poeta, no livro Os Gringos (1973) reeditado pela Editora Reformatório em 2015, contos em que despontará também a persona Orso Cremonesi, um professor de português e literatura obcecado por Gregório de Matos. Na capa e contracapa do livro de ambos – Cantoria de Conrado Honório e Modas de Aldo Tarrento – a apresentação dos poetas cabe a ninguém menos que Mafra Carbonieri, que escreve, de forma irreverente, uma espécie de comentário-síntese sobre eles. Conrado Honório e Aldo Tarrento também comparecem na lira de Orso em um emaranhado de vozes. Mas estas, longe de serem unívocas, provocam uma quebra no discurso em favor de uma inventividade estética pronta a desafiar o leitor na busca de um novo lirismo. Diga-se de passagem, é o poeta Orso Cremonesi quem apresenta Miguel Carlos Malavolta Casadei e Paulo de Tarso Vaz Vendramini, “autores” de O canto furtivo, e que foram seus alunos nos cursos de literatura e história da arte. Malavolta Casadei também é quem “controla a narrativa”, do romance O abismo e talvez o escritor de Carta sobre O destino e A urgência. Já a criação de Frei Eusébio do Amor Perfeito, cuja primeira publicação data de 2007, resurge em A lira de Orso Cremonesi no Sermão da Quaresma e em epígrafes – procedimento corriqueiro na escrita de Mafra, espécie de pequenas sinédoques que, juntas no todo do poema, formam um campo de escrita em dobras, em um ultrapassamento de sentidos e convenções. Da mesma forma, surpreende o jogo que Mafra faz entre o personagem José Lourenço Schopenhauer, o anão do romance O Motim na Ilha dos Sinos com o Diário Metafísico, este escrito realmente pelo filósofo Arthur Schopenhauer (1788 – 1860). Ou ainda, quando promove uma altercação entre os poetas Malavolta Casadei, do A lira de Malavolta Casadei, e Roque Rocha, do A lira de Roque Rocha. Mais do que perceber referências de Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Gregório de Matos, Arthur Rimbaud, Edgar Allan Poe etc., Mafra Carbonieri tem uma marca autoral, uma escrita particular, um projeto literário que, pela sua importância e originalidade, merece ser revisto e estudado. Afinal, são linguagens que, como diria Orso Cremonesi, nos possibilitam sentir que a “poesia inunda ou escorra por natureza”. Jucimara Tarricone Pós-Doutora em Letras na área de Teoria Literária e Literatura Comparada/USP. Pesquisadora Colaboradora do IEL/UNICAMP, departamento de Teoria e História Literária. Autora de Hermenêutica e crítica: o pensamento e obra de Benedito Nunes. São Paulo/FAPESP: EDUSP; Pará: EDUFPA, 2011 – finalista do Prêmio Jabuti 2012 na área de Teoria e Crítica Literária
Informações sobre o Livro
Título do livro : Poesia Reunida Mafra Carbonieri – vol. 2
Autor : Mafra Carbonieri
Idioma : Português
Editora do livro : EDITORA REFORMATORIO
Capa do livro : Mole
Quantidade de páginas : 276
Tipo de narração : Manual
Data de publicação : 01-11-2021
Gênero do livro : Ficção
Peso : 320 g
Ano de publicação : 2021
Altura : 30 cm
Largura : 23 cm

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